Em busca de tempos cada vez menores para a corrida de 100 metros, os atletas têm se esforçado ao máximo. O jamaicano Usain Bolt detém o recorde desta modalidade com o impressionante tempo de 9,58 segundos. Mas será este o menor tempo possível para um ser humano normal correr?
Para responder esta pergunta, o biólogo Mark Denny, da Universidade de Stanford (EUA), resolveu fazer uma abordagem estatística ao problema. A ideia por trás do trabalho de Denny, publicado em 2008 no Journal of Experimental Biology, era de que, à medida que os atletas chegassem próximos do “limite natural” de velocidade do ser humano, as diferenças de tempo entre um recorde e o próximo ficariam cada vez menores, e um gráfico mostrando a evolução do tempo total se aproximaria de um platô.
Usando resultados de corridas de 100 metros desde os anos 1900, Denny utilizou um programa de computador para tentar encontrar uma curva que melhor descrevesse estes resultados, e chegou a um modelo que prediz que o tempo humanamente possível deve ficar em torno dos 9,48 segundos, embora os tempos humanos não tenham ainda chegado a um platô (não tenham se estabilizado).
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Como comparação, Denny também desenhou gráficos dos melhores tempos de puro-sangues corredores e galgos de corrida, e descobriu que para estas raças também há um limite de velocidade, com pouca melhora desde os anos 1950 para os cavalos do Kentucky Derby, e desde os anos 1970 para os galgos.
“Olhando as outras espécies, as que estamos tentando criar para correr cada vez mais rápido, isto não está funcionando”, diz Denny. “Não há razão para pensar que os seres humanos sejam diferentes de outras espécies, que de alguma forma estas coisas não tenham limites”.
Uma outra abordagem foi feita pelo especialista em movimentação humana, Peter Weyand, professor de biomecânica na Universidade Metodista Meridional (Texas, EUA). Segundo Weyand, o fator principal que determina a velocidade é a força aplicada pelo pé do atleta quando atinge o chão.
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Quando correm a velocidade constante, os atletas se movem como se estivessem em pula-pulas. 90% da força é usada para impulsionar o atleta para cima, e 5% para movimentar para frente. “O que eles fazem é pular bastante”, diz ele. O corpo então se ajusta naturalmente à velocidade, alterando a força com que atingimos o chão com os pés. Quanto mais forte, mais rápido.
E qual a força máxima que um humano pode aplicar ao chão enquanto corre? Weyand publicou um estudo em 2010, no Journal on Applied Physiology, sobre um trabalho em que colocou corredores em esteiras a diferentes velocidades, correndo para frente, para trás e saltando.
Neste trabalho, ele descobriu que quando pulamos, atingimos o chão com 30% mais força do que quando corremos. Baseado nesta informação, o grupo concluiu que seres humanos podem correr a até 19,3 m/s – se usarem da maior força fisiologicamente possível. Isto significa fazer os 100 metros em 5,18 segundos.
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Só que isto não é tão simples. Para maximizar a velocidade o corredor tem que equilibrar a força com que atinge o chão, e a frequência das passadas. Com força máxima, a frequência não é tão alta, o que torna as passadas mais lentas. A combinação ótima de força e frequência de passadas depende de cada indivíduo, por causa de fatores como altura do atleta, comprimento da perna e velocidade que eles correm. Não há uma regra de ouro.
E qual é a velocidade máxima permitida por este modelo? Weyand reluta em dar um número. “A ciência não é boa para fazer previsões de extremos”, diz ele. Mas ele acredita que o tempo mínimo não deve baixar dos 9 segundos. Para comparar com o animal corredor mais rápido, o guepardo pode correr 100 metros em menos de 6 segundos.
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Mas se o homem usar da ciência e tecnologia, ele talvez possa alcançar o guepardo. Hormônios que alteram as propriedades dos músculos poderiam deixar o atleta bem mais rápido, e esta é só uma de várias opções disponíveis para melhorar a performance da corrida. Ainda existem terapias gênicas, tecnologias especiais e agentes farmacológicos, entre outras coisas. Afinal, nosso dom especial não é correr: é vencer nossos limites.
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